terça-feira, 11 de março de 2014

Muitos e muitos anos de vida ao nosso Bumba meu Boi

Foto de Lorena Monteiro - Festa do Bumba meu Boi 2014
Clarissa Moura
bahstidores@yahoo.com.br

Utilizou este espaço hoje, não para noticiar festivais de música nativista, mas sim, para reviver um pouco da minha infância, contando sobre o “Bumba meu Boi”, festejo realizado há quase um século na cidade de Encruzilhada do Sul, localizada no Vale do Rio Pardo.

Sou encruzilhadense, como muitos sabem. nasci e me criei naquela cidade, com pouco mais de 23 mil habitantes. Saí em busca do meu futuro profissional, mas meu amor por aquela terra permanece sempre vivo, e se Deus me permitir, um dia voltarei para lá.

O Bumba Meu Boi é uma festa tradicional e faz parte do calendário oficial do município. Digo festa, pois realmente é uma grande festa! É realizado sempre uma semana após o carnaval, no dia do “enterro dos ossos”. Milhares de pessoas esperam ansiosas por esse dia, muitos escolhem suas melhores roupas, as “domingueiras”, e se vão para a Dr. Ozy, praça principal, localizada no centro da cidade.

O dia do Boi é um verdadeiro ritual, ele é preparado e ornamentado, muito bem cuidado para a maratona que o espera. São quase duas horas de corridas e brincadeiras. O boi chega ao centro da cidade, palco para sua farra, acompanhado da equipe de “apoio”, composta por “veterinários e tropeiros”. É recepcionado por gritos, aplausos, sustos e claro, por muita correria! As pessoas aparentemente fogem, mas querem que ele chegue bem pertinho para desafiá-lo. Crianças e adultos se mesclam em um verdadeiro “mar de gente” ao entorno do Boi, dando boas gargalhadas!

Durante o percurso, que inicia na vinda do Boi até a praça, ele finge estar morrendo, então o grupo de apoio solicita ajuda para salvar sua vida, e normalmente recebe uns “golinhos” de alguma bebida, e o veterinário simula uma injeção. As badaladas do cincerro pendurado no pescoço, anunciam que ele foi salvo, e o animal sai novamente correndo, em direção ao povo. A grande e pesada estrutura de ferro, enfeitada com tecidos e franjas coloridas, vai sendo revezada entre os companheiros da tropa.

Falo aqui hoje do Boi, pois com o passar do tempo, esse Folguedo foi sendo esquecido no nosso estado, e a única cidade gaúcha, que não deixou que o Bumba meu Boi desaparecesse, foi Encruzilhada do Sul, que ainda continua preservando essa tradição.

Nos meus tempos em Encruzilhada, o Mestre do Boi, responsável por resgatar o espírito dessa brincadeira folclórica, era um senhor muito sorridente e simpático, de poucas palavras, o seu Firmino. Hoje esse legado passou de avô para neto, e o Diogo Kucharski de 31 anos, assumiu o comando a frente do Boi carregando a "Bandeira do Bumba meu Boi" junto com as lembranças do seu avô.  Uma verdadeira tradição de família que enriquece o folclore gaúcho! 

O Bumba meu Boi é um dos folguedos mais antigos, parte importante da história e do folclore gaúcho, assim como o Terno de Reis (que também acontece até hoje no município). Paixão Cortes traz em sua bibliografia relatos da farra do Boi e menciona Encruzilhada na preservação dessa festa.

Me criei brincando com o Boi e hoje fico muito feliz ao ver, meu sobrinho de dois anos, se divertir como eu, com esse mesmo Boi.  Muitos e muitos anos de vida ao nosso Bumba meu Boi!

Foto de Lorena Monteiro - Festa do Bumba meu Boi 2014

2 comentários:

  1. Belíssimo texto Cacá! Fico muito feliz de ler coisas tão bonitas de uma colega tão querida! beijos

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    1. Fico muito feliz que tua família tenha dado continuidade a este legado!!! Bjãooo amiga!! Saudade :)

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