quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Médico por profissão e poeta por vocação


Por Matias Moura

Marcelo Domingues Dávila, 45 anos, entre suas receitas médicas, em Santana do Livramento , vai compondo seus poemas e dando vida a arte de brincar com as palavras .

Começou a escrever seus poemas bem cedo entre 12 e 13 anos de idade , através dos incentivos de seu avô , que era um homem do campo e conhecedor lida e nas horas vagas declamava as poesias de Luiz Menezes , Jayme Caetano Braun , Lauro Rodrigues , Marco Aurélio Campos , e enquanto ouvia aquela voz campeira começou a escrever seus primeiros versos .  

Aquele guri , cresceu , embora tenha se mudado pra cidade grande em busca de formação profissional não esqueceu aquelas imagens que vinham em forma de palavras recitadas poeticamente pelo avô e logo começaram aflorar em suas letras . Marcelo Davila , conta que começou muito cedo a acompanhar os festivais nativistas ,e como já escrevia suas letras e poesias ,aos 17 anos classificou duas obras no festival Jacui da Canção da cidade de Charqueadas em 1987 e ali começou sua participação no movimento nativista do estado .Depois vieram uma Tertúlia e uma Tropeada da Canção. E com o avanço do curso superior e, após, o início da vida profissional, acabou ficando mais de 20 anos sem participar, retornando no 21º Grito do Nativismo de Jaguari, em 2010. De lá pra cá, foram quase 30 participações.

Entrevista com Marcelo Domingues Dávila

Qual a relação da arte poética e a sua profissão?

R- A relação da poesia em particular – e da literatura em geral – com a medicina é um tema que me interessa sobremaneira. Talvez escrever seja uma forma de abrandar as tantas dores que se presencia no exercício da profissão, diuturnamente. São muitos os exemplos: Luis Guilherme do Prado Veppo, Balbino Marques da Rocha, Ramiro Barcellos (autor do clássico “Antonio Chimango”), Mário Eleú, Jaime Vaz Brasil e Aureliano de Figueiredo Pinto. Na prosa, Cyro Martins (autor da “Trilogia do Gaúcho a Pé”), Dyonélio Machado, Moacyr Scliar. Poucos sabem, mas o primeiro romance publicado no Rio Grande do Sul, “A Divina Pastora”, em 1847, tinha como autor um médico, José Antônio do Vale Caldre e Fião.
Quais tuas influências na poesia?

R – São muitas e variadas. Em âmbito regional, Jayme Caetano Braun, Aureliano de Figueiredo Pinto, Lauro Rodrigues, Colmar Duarte, Lauro Antônio Correa Simões,Apparício Silva Rillo, Luiz Coronel, Mário Eleú Silva, entre outros. Aprecio muito a obra de Carlos Omar Villela Gomes, Martim Cesar Gonçalves, Silvio Genro, Jaime Vaz Brasil. De forma universal, João Cabral de Melo Neto (pra mim, o maior de todos os poetas brasileiros), Vinicius de Moraes, Aldir Blanc, Jorge Luis Borges, Mario Benedetti, Mario Quintana. São tantos que corro o risco de ser injusto, deixando vários nomes de fora.

Quais são as tuas principais premiações em festivais?

R – Tive a honra e o prazer de premiar em primeiro lugar em dois dos mais tradicionais festivais do Estado, a Coxilha de Cruz Alta (32ª edição) e a Tertúlia de Santa Maria (19ª edição), festival este onde recentemente, em sua 22ª edição, conseguimos o 3º lugar. Também premiamos em primeiro, ao lado dos parceiros, na 4ª Tropeada de Livramento, 8º Canto sem Fronteira de Bagé e 5º Levante de Capão do Leão. Afora isso, alguns prêmios de segundo lugar e premiações paralelas, como Música Mais Popular, Melhor Arranjo, Melhor Grupo Instrumental – entre outros – nos mais variados festivais.

O que falta para a poesia gaúcha e a música
nativista ultrapassar as barreiras e ganhar o país ?

R – Há muito se discute esta questão. Talvez a maior dificuldade seja alcançar uma abrangência nacional em grande escala. Em festivais de música regional realizados fora do Rio Grande, como o Viola de Todos os Cantos, em SP, ou o FESP, em MG, sempre há representantes da música gaúcha. E, não raro, premiando entre os primeiros lugares. Na região Centro-Oeste, a presença da nossa música é bastante forte, certamente pela presença dos muitos gaúchos que para lá se foram. É possível que nos falte alguma experiência na questão comercial, de produção artística. Diariamente vemos surgir “fenômenos” comerciais no mercado fonográfico, com toda uma estrutura de mídia por trás, cuja qualidade musical é imensamente inferior ao que se faz por aqui, em termos poéticos e melódicos. O RS é um celeiro de talentos.

Qual foi um momento inesquecível que os festivais te proporcionaram?

R – Foram muitos. Alguns deles: em 1988, com 18 anos, tive duas músicas classificadas na 4ª Tropeada, aqui de Livramento, em parceria com Miguel Villalba. Enquanto a banda passava a música, achegou-se uma das minhas referências poéticas, o saudoso Lauro Simões, e ficou escutando uma das nossas obras; ao final, fez um comentário bastante elogioso sobre a letra e perguntou quem era seu autor. Fui apresentado a ele, que demonstrou surpresa ao constatar minha idade naquela ocasião. As premiações na Coxilha e na Tertúlia também foram inesquecíveis, pela amplitude destes festivais e pelo referendo popular ao resultado final. São momentos e histórias que ficam para sempre, que a música regional proporciona.
As principais premiações?

R –Tive a honra e o prazer de premiar em primeiro lugar em dois dos mais tradicionais festivais do Estado, a Coxilha de Cruz Alta (32ª edição) e a Tertúlia de Santa Maria (19ª edição), festival este onde recentemente, em sua 22ª edição, conseguimos o 3º lugar. Também premiamos em primeiro, ao lado dos parceiros, na 4ª Tropeada de Livramento, 8º Canto sem Fronteira de Bagé e 5º Levante de Capão do Leão. Afora isso, alguns prêmios de segundo lugar e premiações paralelas, como Música Mais Popular, Melhor Arranjo, Melhor Grupo Instrumental – entre outros – nos mais variados festivais.

Quem são teus parceiros musicais ?

R – Procuro fazer um trabalho poético diversificado, por vezes mais campeiro, por outras mais “aberto”. Isso abre o leque para várias parcerias. A própria convivência no meio dos festivais proporciona sempre novas possibilidades. Entre os santanenses, tenho composições com Juliano Moreno, Robson Garcia, Clóvis de Souza, Geovani Silveira, Volmir Coelho, Marciano Reis Filho. No Estado, Adão Quevedo, Danilo Kuhn, Tuny Brum, Aline Ribas, Caine Teixeira Garcia, Davi Covaleski, Telmo Vasconcelos, Eduardo Monteiro, RaineriSpohr, Marçal Furian, entre outros. Como intérpretes, além dos citados, tenho composições nas vozes de Robledo Martins, Jean Kirchoff, Juliano Javoski, Analise Severo, Grupo Mas Bah, Grupo Sperandires, Mauricio Oliveira, Ita Cunha, Mauricio Barcellos, Daniel Cavalheiro e outros mais.

Qual o sentimento em ver tuas poesias , musicadas e sendo reconhecidas pelos palcos do Rio Grande ?

R – Procuro sempre passar alguma mensagem nas letras que faço. Gosto de compor temas históricos e sociais. E de usar muitas referências intertextuais. Saber que o público – para quem escrevemos – entendeu esta mensagem dá a sensação de dever cumprido, de objetivo alcançado. E o reconhecimento dos colegas compositores é uma honra muita grande.



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